terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Suéteres será a grande atração do Grito Rock 2011

Caipiras sem sotaque

Pirassununga é um lugar bacana: tem um pipoqueiro vermelho e um morador de rua dândi, canaviais, curimbatás, militares e universitários, senhoras católicas e paralelepípedos. Por algum motivo, o rock escolheu Pirassununga: na Bodeguita, o mais simpático dos botecos da cidade, a moçada vibra mesmo é com Pixies, Radiohead e Strokes.

Lucas, Igor, Hugo e Gabriel pertenceram a algumas bandas que tocam na noite pirassununguense. Nenhum deles é garoto, apesar das aparências: estão chegando aos 30 anos e têm carreiras consolidadas em outras áreas, mas as bandas em que tocaram lhes deram estrada e tempo de palco. Os quatro estão agora juntos e não tocam mais covers: são os Suéteres.

Os Suéteres criam e ensaiam numa casa que alugaram com amigos, onde também pessoas queridas se reúnem antes e depois dos botecos. Numa das paredes da casa tem uma placa, dessas de rua, mais precisamente da Rua Caetés. Pois essa placa acabou batizando o primeiro álbum da banda, gravado no Estúdio Costella e produzido por Chuck Hipolitho - outro cidadão pirassununguense.


O trabalho de Chuck não acrescenta nem nada elimina da essência sonora da banda: amigos de longa data, ele tratou de lapidar as habilidades e os sentimentos dos Suéteres, cujos integrantes ele conhece tão bem.

O baixista Hugo e o baterista Gabriel são generosos ao abdicarem de exibicionismos para determinarem com elegância e simplicidade a pulsação das doze músicas do álbum. Igor e Lucas são guitarristas que se complementam: o que o primeiro tem de virtuosismo e técnica, o segundo tem de carisma - na voz e nas mãos.

A combinação destas habilidades com as influências musicais da banda e a produção de Chuck resulta num disco sensível e moderno, sem soar pretensioso ou pedante. Num mundo rotulável, periga serem classificados como indies, mas basta ouvir para perceber que se trata de uma banda de rock caipira, que absorveu suas referências cotidianas e sonoras para traduzir tudo em boa música.

As letras de Rua Caetés foram cuidadosamente tecidas e encaixadas nas músicas: não há hiatos silenciosos ou sílabas forçadamente prolongadas. O frescor sonoro é ressaltado por uma poesia na primeira pessoa e esporadicamente parnasiana, que evoca estranhamento e beleza. Lembra a sabedoria dos avós pirassununguenses, em versos como “todo erro é um pertence” (em “Se For de Aplaudir”) ou “perde quem troca um hoje por dois amanhãs” (na delicada “Vale Se Jogar”).

Na página do MySpace (http://www.myspace.com/sueteres), Chuck conta “que tem que ter pachorra para colocar ‘melhor banco de praça que aceitar você nesse lençol’ numa letra”. A música em questão é “Já Vi Pior”, uma das mais bem recebidas nos shows e a escolhida para ser o primeiro clipe da banda. Dirigido por Manoel FL Rocha e Fabrizio Martinelli e inspirado no Pirassununga-way-of-life, foi rodado na fazenda da família de Gabriel e mostra a banda em seu habitat natural.



Para entender melhor os Suéteres vale ouvir primeiro “Dia Em Preto e Branco”, uma balada nervosa que cresce em intensidade em torno de dois versos principais - “eu cansei de gostar”, “eu gostei de cansar” - para concluir que “ainda tenho um par de histórias pra contar e meias pra aquecer”.

É música de gente madura, adoráveis caipiras que fazem um som sem sotaque. Como se diz em Pirassununga, é “bão por bosta”, com sotaque - e que não soe ofensivo, é apenas um jeito local de falar que é bom pra caralho. Ou, como diz o Lucas, legal pra chuchu.


Por Paulo Camossa - AlmapBBDO

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